Ainda estou tentando digerir a decisão do supremo (com caixa baixa, por favor) em extinguir a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Antes de qualquer análise acerca da situação do mercado, penso nos milhares de estudantes que estão matriculados nas universidades do país e, agora, terão a amarga sensação de ver anos de estudo jogados fora ou, pelo menos, tornado inúteis do ponto de vista de qualificação em relação à concorrência.
Argumentaram os juízes (aqueles da casta superior que está acima do bem e do mal) que o dispositivo era inconstitucional por ter sido criado no regime militar. Ótimo para tentar desviar o foco da questão principal: eles agiram em nome dos donos de empresas jornalísticas. Será que o maldito regime militar não pode ter criado, ainda que sem a intenção, um dispositivo que acabaria se tornando uma evolução no cenário da imprensa no país?
Ou devemos acreditar, assim como os ministros, que tudo, absolutamente tudo, que foi feito na ditadura era condenável? Se assim fosse, outro maldito, o ex-presidente que foi afastado por impeachment, também não teria tomado uma decisão acertada ao permitir a abertura dos mercados ao Brasil, cujo resultado mais expressivo é a melhoria dos produtos em todo o país, sobretudo os carros, acertadamente chamados por Elle de carroças.
Uma decisão como a de ontem, por sinal, faz jus ao momento que vivemos em nosso país: se um homem reconhecidamente iletrado pode governar essa pocilga, é natural que se procure, de uma vez, esvaziar a educação em todo o Brasil. Nosso grande líder representa uma espécie de sonho brasileiro: o semialfabetizado que veio, viu e venceu. E se Ele conseguiu, porque outros de nós não haverão de conseguir?
E já que o momento é propício, que tal estender a decisão para todas as áreas que não necessitem de conhecimento técnico ou de ciências exatas? Poderíamos começar pela carreira de Direito, a mesma dos nobres doutores do STF. Afinal, para ser "ADEVOGADO" basta ler uma meia dúzia de livros, saber interpretar as leis e, mais que tudo, saber como burlá-las. Assim sendo, a carreira poderia facilmente ser dominada pelos estelionatários, falsários, pilantras, mentirosos, falsificadores, pulhas e tantos outros que hoje estão na cadeia (poucos) ou em liberdade (graças a seus pares togados). Na verdade, acho mesmo que isso só iria aumentar a competição com os bandidos que já estão lá...
Ora, por várias vezes já orientei advogados a agir em processos e até mesmo a encontrar um réu foragido. Dessa forma, creio que sou altamente capaz de exercer essa profissão. Tenho as qualificações necessárias. Sei ler, escrever, interpretar textos, e também sei argumentar. A questão da mentira e da hipocrisia é que ia ter de treinar um pouco, mas a convivência com o pessoal de lá seria um aprendizado maior do que qualquer faculdade.
Vamos defender também extinção do diploma para toda a área de comunicação (RP, publicidade), e de Humanas, como Letras, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia e tantas outras Ias que andam por aí. Que tal democratizarmos, de uma só vez, a bandalha do ensino nessa republiqueta de meia tigela?
Os patrões devem estar comemorando, provavelmente junto com seus amiguinhos juízes, essa afronta à qualificação. Em tempos de "jornalismo colaborativo, ou participativo", como apregoam os donos de empresas jornalísticas, vai ser muito fácil "contratar" leitores que vão gerar o conteúdo dos jornais e blogueiros que não sabem diferenciar o uso do MAS com o do MAIS, para preencherem suas páginas no dia a dia, por uns míseros trocados. A máxima hoje é "Todo cidadão é um repórter", do periódico Oh my news. Agora, no Brasil, essa máxima tem o aval da Justiça.
A defesa do diploma não é uma defesa da exclusão. É evidente que um canudo não faz um grande repórter. Mas, em tese, garante, ao menos, um pouco mais de escolaridade e seriedade à classe. Dizer que grandes jornalistas nunca tiveram diploma é uma verdade, mas ela é incompleta. Em outros tempos, não havia faculdades de jornalismo e a profissão, tampouco, era regulamentada. O que ocorreu ontem foi um absurdo e um gigantesco retrocesso.
O resultado dessa inaceitável decisão nós vamos ver em breve.
Complemento (ou segundo clichê). Imperdível o festival de besteiras que essa dupla fala.
By the way, recebi essa mensagem de um verdadeiro amigo de fé. Ao ler, fiquei com os olhos cheios d'água. Repassei prum camarada e a reação foi idêntica. Vale a pena.
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